quinta-feira, 28 de maio de 2015

Carta ao Sr. Prefeito Paulo Piau-PMDB, solicitando a suspensão da "Audiência Pública Virtual - Repaginação da Av. Getúlio Guaritá" e preservação das árvores.

EXMO SR. PREFEITO MUNICIPAL DE UBERABA
PAULO PIAU
Assunto: “Audiência Pública Virtual – Repaginação da Av. Getúlio Guaritá”

Excelentíssimo Prefeito

Venho por meio desta expor sobre a “Audiência Pública Virtual – Repaginação da Av. Getúlio Guaritá”, disponibilizada no site da Prefeitura Municipal de Uberaba, e que no meu entendimento foi elaborada de forma inadequada, colocando a credibilidade da mesma em questão.
Cito algumas considerações importantes:
1-      No formulário da “audiência pública virtual” não há espaço para identificação (nome, endereço, documentos, profissão, faixa etária), podendo uma mesma pessoa realizar inúmeras inscrições, inclusive de forma anônima.
2-      As argumentações apresentadas na introdução da “audiência pública virtual”, em questão, não fundamenta com o mesmo peso as várias opções que o cidadão poderia e deveria ter, com nítido peso para a “repaginação” e “substituição das árvores”, ficando a opção “revitalização” expressa em uma única palavra, no final do formulário, como uma das 3 opções em questão fechada, não discursiva, com peso mínimo, para não dizer inexpressivo. Não havendo nenhum parágrafo que aborde, conceitue ou cite a “revitalização”, a mesma poderia inclusive ter em seu bojo o “corte de árvores”, se assim subjetivamente entender o proponente da “audiência pública virtual”.
3-      Realizei 02 (duas) inscrições para demonstrar a ausência do cadastro da “audiência pública”, bem como seu controle.  Nelas citei que nosso município tem outras prioridades ambientais, principalmente diante do atual quadro de crise hídrica nacional: a) incentivar áreas urbanas permeáveis para infiltração da água; b) iluminação pública subterrânea, preservando a guia das árvores e evitando podas extensas, com aumento considerável de nossa cobertura vegetal urbana, maior sombreamento e qualidade de vida; c) recompor áreas verdes rurais com incentivo e pagamento por serviços ambientais para o produtor rural na preservação de nascentes, minas de água, matas ciliares (APPs) e APA do Rio Uberaba; d) maior e melhor reutilização da água por fábricas, usinas, com incentivos através do imposto verde; e) construção de fossas sépticas biodigestores nas áreas de desenvolvimento (bairros rurais); f) incentivar a captação da água da chuva, seja residencial ou industrial; g) realizar a coleta seletiva de lixo; h) Conferência Municipal do Meio Ambiente com eleição do COMAM e Encontro Municipal do Meio Ambiente, de forma intercalada; i) programa de educação ambiental nas escolas e parques naturais; entre muitas outras demandas, lembrando que estamos próximos de um novo período de estiagem.
4-      Vivemos uma mudança de paradigma onde o desenvolvimento econômico e a sustentabilidade devem andar juntos, sendo fundamental a harmonia entre a ocupação humana e natureza, pela qualidade de vida e preservação das futuras gerações. As mudanças climáticas e o papel das árvores para atenuar os impactos ambientais é imprescindível (exemplo citado no item 3), além de seu valor no patrimônio natural do município, em específico.
5-      Realizar podas ecologicamente corretas das árvores e a instalação de luminárias abaixo de suas copas, com baixo custo e um grande aumento na sensação de segurança das pessoas, citado como um dos problemas pelo proponente da audiência. Certamente as árvores não são responsáveis pela insegurança que nossa própria sociedade causou, e não devem pagar por isso.
6-      Adaptar calçadas e acrescentar um paisagismo em harmonia com as árvores é mais salutar e correto do que cortar árvores sadias e que trazem bem estar com suas sombras, além de ser o habitat de centenas, milhares de outras espécies animais e vegetais.
7-      As “audiências públicas virtuais” não podem e não devem substituir as “audiências públicas presenciais”, principalmente em assuntos tão importantes, onde a vida de dezenas de árvores centenárias está em questão, mas sim servir de ferramenta adicional, de forma criteriosa, ouvindo o Conselho Municipal do Meio Ambiente, entidades e organizações da sociedade civil, Universidades, Escolas, enfim, ambientalistas, ruralistas e a comunidade uberabense de um modo geral, onde todos possam contribuir em sua elaboração, com maior representatividade da coletividade.
8-      Talvez uma “consulta pública” seja o nome mais apropriado para as enquetes virtuais, como sugeriu o Coordenador Regional das Promotorias de Justiça de Meio Ambiente do Triângulo Mineiro e Baixo Rio Grande, Carlos Valera, desde que não resultem em possíveis impactos ambientais, que merecem e devem ser debatidos em audiências públicas. O modelo de “audiência pública” tem suas regras e pressupõe, entre vários quesitos, ouvir as inúmeras opiniões da comunidade, onde propostas, até mesmo divergentes, possam ter o direito de igual espaço, onde o(s) representante(s) de cada proposta a(s) defenderá(ão) diante da plenária, e assim sucessivamente até sanar dúvidas e aprofundar nas mesmas, que serão votadas e aprovadas ou não.
9-      O subsecretário do Meio Ambiente, em entrevista à TV Integração diz: “Para evitar o impacto urbanístico, vai ser retirado paulatinamente, ou seja, retira-se uma árvore, ou mais e planta-se a espécie correta. Espera ela crescer para depois retirar outra.", explicou Marco Túlio. (...) O representante do poder público ao defender uma proposta em detrimento de outras, descaracteriza a isenção da “audiência pública”, que pode ter uma posição totalmente diferente da defendida pelo subsecretário. Vide item 2. Por adaptações urbanísticas, já apresentadas anteriormente, e pela preservação das árvores em questão.

Quero registrar e agradecer a atenção do Secretário de Comunicação Denis Silva que se colocou à disposição para ajudar no que for preciso.
Reconheço o trabalho do Secretário de Meio Ambiente Ricardo Lima, onde em parceria já realizamos vários projetos e audiências públicas em outras gestões, e sei de sua preocupação com a participação popular, dos ambientalistas, entidades classistas, ambientais e culturais do terceiro setor. No entanto, me reservo no direito de discordar da Semat, pontualmente, na condução desta “audiência pública virtual”.
Em tempo, aproveito para registrar também a atenção do Secretário do Meio Ambiente e Turismo Ricardo Lima, que acolheu algumas de nossas propostas.
Finalizando, certo de poder contar com o Vosso apoio e compreensão, e mediante o exposto acima, solicito a suspensão da “audiência pública virtual” já citada, e a preservação das árvores da Avenida Getúlio Guaritá. Entendo ser necessário o estudo de um novo modelo e formulação de “consulta pública virtual”, com suas limitações de poder e intervenção e impactos ambientais, colocando-me à disposição para ajudar no que for preciso pela construção de uma política ambiental democrática e sustentável do nosso querido município de Uberaba.

Atenciosamente,

Uberaba, 27 de maio de 2015

Carlos Marcos Perez Andrade
Professor, coordenador do portal “Voz do Cerrado”, produtor cultural

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Charge do Toninho

Charge do Toninho

"AQUILO QUE NÃO PODES CONSERVAR NÃO TE PERTENCE"

Excelente frase divulgada na coluna FALANDO SÉRIO de Wellington Ramos do JM. Espero que muitos ruralistas e políticos a tenham lido.